Marília
Há quatro meses, Marília Freitas encontrou uma nova companheira. Fazia tempo que pensava em se aproximar dela e em junho conheceu alguém que a incentivou para dar o pontapé inicial na relação. Foram juntando dias e experiências. Andaram em círculos pelas praças até ganhar confiança para percorrem juntas o trajeto entre a casa de Marília e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
Os trajetos, antes curtos, vão se expandindo e quase sempre acontecem na companhia de amigos. A Praia de Iracema e o centro de Fortaleza já entraram no itinerário cotidiano.
Ser mulher e ciclista é também, como conta a jovem, lidar com outra violência: os assédios. A escolha de que roupa usar passa não necessariamente para o calor que está fazendo no dia, mas sempre por uma análise de como evitar os olhares e cantadas constantes.

Marília Freitas, 18, aprendeu a pedalar há quatro meses utilizando os veículos do sistema Bicicletar. Desde então, é de bicicleta que ela se locomove entre sua casa e a universidade
Uma estratégia adotada por ela é usar um casaco amarrado na cintura. O medo de assédio tem outra consequência: impede a liberdade de ir e vir. “Teve uma vez que sai aqui da universidade umas 22h, 22h30 e fiquei pensando se iria de bike ou não. Acabei não indo porque eu não tinha essa sensação de liberdade nesse horário justamente por eu ser mulher”, relembra.

Ainda sem ter uma bike para chamar de sua, a estudante de Jornalismo utiliza o Bicicletar – projeto da Prefeitura de Fortaleza junto a empresas privadas para o compartilhamento de bicicletas na Capital. Marília encontra as potencialidades de viver a cidade de outra forma, mas também se depara com as primeiras dificuldades de infraestrutura

“Às vezes eu pego bike em que falta buzina, falta retrovisor ou em que a cestinha que guarda os itens está caindo. Teve uma vez que eu peguei uma bike sem selim”, revela

Para Marília, os pontos positivos se sobressaem diante dos negativos. “É um processo em que estou caminhando e quero continuar. Eu me sinto livre, sinto que posso não depender de ônibus ou carro e ainda fazer um exercício físico”, afirma a jovem

Ainda sem ter uma bike para chamar de sua, a estudante de Jornalismo utiliza o Bicicletar – projeto da Prefeitura de Fortaleza junto a empresas privadas para o compartilhamento de bicicletas na Capital. Marília encontra as potencialidades de viver a cidade de outra forma, mas também se depara com as primeiras dificuldades de infraestrutura
A bicicleta acompanha Marília em muitos dos seus trajetos. Clique na galeria de fotos para conhecer um pouco mais da história das duas
Mesmo diante dessas questões, o desejo de viver a cidade sendo ciclista permanece. Para Marília, os pontos positivos se sobressaem diante dos negativos. As crises de ansiedade diminuíram e a qualidade do sono melhorou. “Enquanto você anda de bike, você vai pensando sobre a vida e isso facilita a vivência em meio ao caos que estamos vivendo”, avalia. Andar de bicicleta é seu momento de pausa no cotidiano.
Além disso, a jovem ciclista destaca a economia no dia a dia – uma vez que utiliza o Bicicletar gratuitamente – e o fato de se sentir parte da cidade. “Com a bike eu tenho a experiência de conhecer as ruas melhor do que eu poderia se fizesse os trajetos de carro ou ônibus. Eu paro, olho e observo as coisas com mais calma”. Desde que começou a se locomover por esse modal, Marília vem incentivando sua família e amigos a fazerem o mesmo. Para ela, é “superimportante ocuparmos a cidade de uma forma mais unida com outros ciclistas”.
Texto por Marcela Tosi